As 24 cafeteiras
adquiridas pela Câmara de Sumaré em julho, que provocaram investigação por
suspeita de superfaturamento, não ficam disponíveis para a população no prédio
onde os vereadores trabalham. A reportagem do TODODIA esteve no local na tarde
de ontem e constatou que as máquinas são restritas aos gabinetes dos vereadores
e outras dependências administrativas, como a secretaria geral. Ao menos seis
parlamentares recusaram as máquinas.
A compra das
cafeteiras é alvo de inquérito do MPE (Ministério Público Estadual), que apura
suposto superfaturamento. De acordo com a entidade, cada uma das máquinas
custou R$ 3.499, resultando em um gasto de aproximadamente R$ 84 mil.
Ao menos seis
vereadores não aceitaram a cafeteira, conforme seus assessores disseram ontem.
Funcionários afirmaram não saber para onde os aparelhos recusados foram
encaminhados.
A assessoria do
gabinete do presidente da Casa, Wellington Domingos Pereira, o Welington da
Farmácia (Pros), afirmou que máquinas ficam guardadas no setor de patrimônio,
mas não foi especificado em qual prédio esse departamento funciona - o
Legislativo tem dois imóveis.
Neste outro
prédio, localizado na Rua Dom Barreto, a poucos metros do principal imóvel da
Câmara, a reportagem foi informada que a funcionária responsável pelo
patrimônio teve de sair mais cedo, às 15h30, por problemas familiares.
O funcionário
ouvido também não soube informar se as máquinas estavam na unidade.
CAFÉ NORMAL
Ontem à tarde,
na entrada do prédio principal da Câmara, estavam disponíveis uma garrafa com
café, outra com chá e uma terceira de café sem açúcar, mas não a nova
cafeteira. No andar superior, apenas uma garrafa com chá estava à disposição da
população.
Segundo o inquérito
do MP, cada um dos 21 gabinetes seria contemplado com uma cafeteira, enquanto
as outras três ficariam livres para serem usadas nas demais dependências do
prédio. Ao menos seis vereadores recusaram as máquinas: Cícero Eleotério Bispo
(PDT), Décio Marmirolli (PSDB), Geraldo Medeiros (PT), Rui Macedo (PRB),
Ulisses Gomes (PT) e Warlei de Faria (PSDB).
Segundo o
vereador Rui Macedo, manter uma cafeteira em seu gabinete atrapalharia a rotina
do trabalho. "Os assessores estão aqui para trabalhar, não para ficar
fazendo café para os outros. Quem quiser café, pode pegar lá embaixo (na
entrada)", comentou o vereador.
GABINETES
O vereador
Marcos de Paula (PSB) foi um dos que aceitaram a máquina. O parlamentar recebeu
a reportagem do TODODIA em seu gabinete e mostrou como a cafeteira funciona. É
possível fazer café a base de pó ou grãos, cappuccino e aquecer o leite. Um
café curto, a base de pó, ficou pronto em cerca de 50 segundos.
"Acho que
tem sido útil. Antes vinham aquelas garrafas, que passava duas horas e o café
já estava gelado. Aí recolhiam e tinham que jogar fora. Depois do almoço, vinha
mais duas garrafas e perdia um monte de novo. Um desperdício. Aqui você põe o
pó de café, e 'puf', está pronto", explicou De Paula.
'UMA M...'
Um assessor de
outro vereador, que pediu para não ser identificado, disse que o custo
benefício da cafeteira não compensa. "É uma m... Péssimo. Não é prático.
Ela faz rápido (o café), mas a qualidade não é boa. Fora que nem usa. Ligamos
uma vez, para testar quando veio, e só", contou.
A reportagem foi
até o gabinete do presidente da Câmara, Welington da Farmácia, para perguntar
sobre o inquérito do MPE e sobre a atual localização das cafeteiras que foram
recusadas, mas ele não estava no local.
Ninguém no
prédio principal da Câmara soube informar se as máquinas estavam guardadas na
unidade. A reportagem perguntou na recepção, secretaria e conversou com
funcionários, que afirmaram não saber de nada.
A reportagem
tentou entrar em contato com o presidente da Câmara ontem à noite, mas as ligações
no celular dele não foram atendidas. Já a assessoria de imprensa apenas
reafirmou a explicação dada pela assessora do parlamentar, de que as máquinas
ficam no patrimônio.
ASSESSOR
Outro fato
investigado pelo MPE é que o proprietário da empresa vencedora do pregão, Issac
Aparecido Tonozella, prestava serviços para uma loja de ferramentas de Márcio
Squarizzi Piton, que é assessor do vereador Cláudio Meskan (PSB). A Câmara tem
prazo de 20 dias para fornecer explicações. Segundo o inquérito, a empresa não
existe no endereço cadastrado e teria sido criada um mês antes da abertura do
pregão presencial. As exigências do pregão também estão sendo apuradas.
Piton
classificou Tonozella como um "faz tudo", e que o homem ainda presta
serviços para sua esposa de forma autônoma. "Nem tem como influenciar. Não
tenho nada a ver com a venda (das cafeteiras)."
A reportagem
entrou em contato com Tonozella, que não quis dar informações. "Você
(repórter) pode colocar aí no jornal o seguinte, que eu falei para você pegar
as informações no inquérito (do MPE). Só vou responder ao MP", disse.
Fonte: Todo Dia
Estamos de Olho