Moradores de Sumaré (SP) afrouxam economia de
água após alta na tarifa
básica
FELIPE SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A SUMARÉ (SP)
Moradora de Sumaré, na região de
Campinas, uma das mais afetadas pela crise hídrica no interior paulista, a babá
Irene Antunes Rodrigues, 52, já havia se acostumado com novos hábitos para
reduzir seu consumo de água.
Mas, há um mês, ela aposentou um tambor
que usava para captar água da chuva e abriu a torneira. "Agora, lavo meu
quintal todos os dias. O banheiro, três vezes por semana. Só estou gastando
aquilo que eu pago", afirma.
A mudança de comportamento, repetida
por outros moradores de Sumaré, é resultado da alteração na forma de cobrança
dos consumidores – feita pela Odebrecht, que venceu licitação para operar os
serviços locais de água e esgoto nos próximos 30 anos.
Antes, havia uma tarifa mínima de R$
15,05 para qualquer morador, equivalente ao consumo de 5.000 litros de água no
mês. Irene se esforçava para não ultrapassar essa quantidade e gastar pouco.
Desde junho, a tarifa mínima mais que
dobrou e chegou a R$ 31,90 –correspondente a 10 mil litros de água por mês. Na
prática, Irene e outros vizinhos que não consumiam nem metade disso se sentiram
estimulados ao desperdício.
DESPERDIÇAR
A nova cobrança provocou uma guerra da
água, com referência de moradores à Operação Lava Jato. O presidente do grupo
Odebrecht é investigado sob suspeita de crimes como corrupção ativa e fraude em
licitações. Ele nega.
O técnico em informática Anderson Alves
Machado, 20, que tinha trocado todas as torneiras para gastar menos e
monitorava seu tempo do banho pelo despertador do celular, resolveu tirar o pé.
"Agora, minha mulher lavou a roupa
e a água foi direto para o ralo. Desativei o tambor que tinha e a única coisa
que vou continuar fazendo é captar água da chuva pra regar as plantas",
diz.
Para o paisagista Daines Tanner, 65,
que gastou R$ 22 mil para construir uma cisterna em 2011 e quase não gasta água
encanada, o aumento é um desrespeito ao ambiente. "Estamos num período de
uso racional. Fazer isso é o mesmo que dizer para metade da cidade abrir as
torneiras e desperdiçar", diz.
A prefeitura, comandada pela tucana
Cristina Carrara, diz ter feito a mudança para se adequar à realidade da região.
O vereador Décio Marmirolli, também do PSDB, entrou com uma representação para
o Ministério Público apurar o aumento na conta.
Para ele, é "descarada a afronta
aos consumidores" que terão de pagar por aquilo que não consomem.
O atual consumo mínimo, de 10 mil
litros, é o mesmo adotado em cidades operadas pela Sabesp, mas causou revolta
em Sumaré porque alguns municípios próximos seguem outros parâmetros.
As vizinhas Americana e Ipeúna mantêm a
tarifa mínima para 6.000 litros de água – em Nova Odessa, também nas imediações,
é de 5.000.
Em Sumaré, a nova medida levará 40 mil
dos 80 mil clientes a pagar R$ 31,90.
O diretor da Odebrecht Ambiental de
Sumaré, Marcio Tanajura, diz que o aumento era previsto na licitação. "Não
foram decisões unilaterais."
Para ele, "é natural que o consumo
diminua porque as pessoas que gastavam mais vão querer atingir a tarifa
mínima". Avalia que quem gastava acima de 10 mil litros por mês tentará
economizar para chegar ao valor básico.
Tanajura admite que a empresa falhou em
não avisar os moradores, por meio de cartas e aviso prévio nas contas.
"[A publicidade] não foi feita na
medida correta. Deveria ter sido um esforço maior para ter avisado. Se eu fiz,
fiz muito mal", afirma.
Ele diz que os moradores terão
benefícios em contrapartida nos próximos anos, como a diminuição do desperdício
da água produzida, dos 54% atuais para 30%, até 2018.
Afirma ainda que o reajuste não fez
crescer o consumo geral no último mês. E diz que os moradores pensam gastar
pouco porque os hidrômetros que medem o consumo estão defasados e marcam para
menos – os aparelhos devem ser trocados em até três anos.
Fonte: Folha de S. Paulo
"a diminuição do desperdício de água produzida, não traz beneficio algum aos consumidores, pois isso não diminui o valor da conta dos consumidores
apenas aumenta a oferta do produto"
Estamos de Olho
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